A
frase bíblica “Não toqueis nos meus ungidos” (Sl 105.15) tem sido empregada
para os mais variados fins. Maus obreiros, falsos profetas, adoradores-ídolos e
até políticos “evangélicos” se valem dela para ameaçar seus críticos. Crentes
mal-orientados usam-na para defender o seu “ungido”, mesmo que ele defenda abertamente coisa que são pecado perante a Bíblia. E
outros ainda a empregam para reforçar a ideia de que não cabe aos servos de
Deus julgar ou criticar heresias e práticas antibíblicas.
Todavia,
a passagem mais conhecida é aquela em que Davi, sendo pressionado pelos seus
homens para aproveitar a oportunidade de matar Saul na caverna, respondeu:
"O Senhor me guarde de que eu faça tal coisa ao meu senhor, isto é, que eu
estenda a mão contra ele [Saul], pois é o ungido do Senhor" (1Sm 24:6).
Usando
também a história de Davi e Saul, esses pastores se dizem ungidos do Senhor e arrogam
para si uma posição especial no meio do povo de Deus, posição essa que, segundo
imaginam, os coloca acima da possibilidade de serem questionados ou mesmo
corrigidos quando erram. E o pior é que — diga-se de passagem — geralmente,
quem dá essa espécie de carteirada é um tipo de pastor que mais erra... um fariseu!!!
Será que isso está correto? Será que os pastores são os “ungidos do
Senhor” e, por essa razão, são incriticáveis e intocáveis? Possuem eles algum
tipo de imunidade, que o impede de ser admoestado, exortado a se arrepender de
seus pecados? Vejamos a Bíblia!
A
unção é a consequência direta do ato de ungir. No Antigo Testamento era muito
comum derramar azeite (um símbolo visível) sobre a cabeça de uma pessoa com o
objetivo de consagrá-la, santificá-la para um serviço especial. Isso era ungir
a pessoa. Consequentemente, se a pessoa fosse fiel a Deus, seria e permaneceria
cheia da unção do Senhor, seria um ungido. Eram homens escolhidos pelo
Senhor para desempenharem os ofícios de rei, profeta e sacerdote.
Quando
examinamos os contextos literário e histórico-cultural da frase acima, vemos
que ela está longe de ser uma regra geral. Uma leitura atenta do Salmo 105 não
nos deixa em dúvida: os ungidos mencionados são os patriarcas Abraão, Isaque,
Jacó (Israel) e José (vv.9-17). Ademais, o título “ungido do Senhor” refere-se
tipicamente, no Antigo Testamento, aos reis de Israel (1 Rs 12.3-5; 24.6-10;
26.9-23; Sl 20.6; Lm 4.20) e aos patriarcas, em geral (1 Cr 16.15-22).
Esta
relutância de Davi em matar Saul por ser ele o ungido do Senhor tem sido
interpretado por muitos evangélicos como um princípio bíblico referente aos
pastores e líderes a ser observado em nossos dias, nas igrejas cristãs. Para
eles, uma vez que os pastores, bispos e apóstolos são os ungidos do Senhor, não
se pode levantar a mão contra eles, isto é, não se pode acusa-los,
contraditá-los, questioná-los, criticá-los e muito menos mover-se qualquer ação
contrária a eles. A unção do Senhor funcionaria como uma espécie de proteção e
imunidade dada por Deus aos seus ungidos. Ir contra eles seria ir contra o
próprio Deus.
Mas,
o que não se pode ignorar é que este respeito pela vida do rei, não impediu Davi
de confrontar Saul e acusá-lo de injustiça e perversidade em persegui-lo sem
causa (1Sam 24:9-15). Davi não iria matá-lo, mas invocou a Deus como juiz
contra Saul, diante de todo o exército de Israel, e pediu abertamente a Deus
que castigasse Saul, vingando a ele, Davi (1Sam 24:12). Davi também dizia a
seus aliados que a hora de Saul estava por chegar, quando o próprio Deus
haveria de matá-lo por seus pecados (1Sam 26:9-10).
No
entanto, de acordo com Gênesis 20.7, e em comparação com Salmos 105.15, embora
proibido por Deus de tocar em Abraão, ungido do Senhor, e de causar dano físico
ao profeta, o rei não vacilou em repreendê-lo pelo fato de haver mentido a
respeito de Sara.
Tal
repreensão, porém, não significa que Abimeleque, por haver atingido verbalmente
Abraão, tenha desobedecido à ordem de não tocar no ungido de Deus.
O
Novo Testamento apresenta uma expansão nesse conceito, mostrando que todos
aqueles que estão unidos a Jesus Cristo, o verdadeiro Ungido do Senhor, são
igualmente ungidos pelo Espírito Santo como profetas, sacerdotes e reis. O
apóstolo Pedro faz uma afirmação nesse sentido: “Vós, porém, sois raça eleita,
sacerdócio real, nação santa, povo de propriedade exclusiva de Deus, a fim de
proclamardes as virtudes daquele que vos chamou das trevas para a sua
maravilhosa luz” (1Pedro 2.9). Os três ofícios são mencionados por Pedro:
“sacerdócio real” (ofícios sacerdotal e real), e “a fim de proclamardes”
(ofício profético). O apóstolo está falando de todos os verdadeiros crentes.
Todos eles são “sacerdócio real”.
Lucas
registra o cumprimento da profecia de Isaías sobre Cristo: “O Espírito do
Senhor está sobre mim, pelo que me ungiu” (Lc. 4:18 cf. 61:1-3 – grifo meu).
Veja que Jesus foi ungido pelo Espírito Santo. Não houve uma solenidade para
que fosse ungido com derramamento de óleo, isto é, que sobre a Sua cabeça fosse
derramado óleo, para confirmar Seu ministério. Isto devido à Pessoa do Espírito
Santo.
Hoje
a unção está no crente. É a Pessoa do Espírito Santo. Jesus disse “pois habita
convosco, e estará em vós” (Jo. 14:17). Paulo declara que fora ungido, porém
não há registro bíblico que diga que sobre ele tenha sido derramado
(literalmente) algum tipo de óleo (2 Co. 1:21 cf. At. 9:17,18). João falou que
a unção que o redimido recebe é verdadeira, e nesta unção deve permanecer, a
autoridade e poder que Cristo tinha vinha pelo Espírito Santo, o mesmo poder e
autoridade estão à disposição da Igreja na Pessoa do Espírito Santo (At. 1:8).
Resumindo
pastores, bispos não são sacerdotes, todos os crentes são “ungidos de Deus” (e
não somente os líderes).
Se
alguém, agir como o rei Saul, que foi um dia ungido por Deus, não cabe a nós
matá-lo espiritualmente, condená-lo ao Inferno. Entretanto, isso não significa
que devamos silenciar ou concordar com todos os seus desvios do Evangelho (Fp
1.16; Tt 1.10,11). O próprio Jônatas reconheceu que seu pai turbara a terra; e,
por essa razão, descumpriu, acertadamente, as suas ordens (1 Sm 14.24-29).
Infelizmente,
muitos líderes, pregadores, cantores e crentes em geral, considerando-se
ungidos ou profetas, escondem-se atrás do bordão em análise, mentem e cometem
todo tipo de pecado, além de torcerem a Palavra de Deus. Caso não se
arrependam, serão réus naquele grande Dia! Os seus fabulosos currículos —
“profetizamos”, “expulsamos”, “fizemos” — não os livrarão do juízo (Mt
7.21-23).
Não
existem cristãos mais ungidos que outros cristãos. E, definitivamente, não
existem "ministérios ungidos".
O
texto de 2 Coríntios 1:21 - 22 diz: "Mas aquele que nos confirma convosco
em Cristo e nos ungiu é Deus, que também nos selou e nos deu o penhor do
Espírito em nosso coração". Estes dois versos ensinam claramente que só
existe uma unção e que todos os cristãos são participantes desta unção, pois o
repartir da mesma é um ato do próprio Deus.
Pastores
que se denominam “ungidos” costumam ensinar suas ovelhas que toda
insubordinação e desobediência é pecado grave e que este tipo de pecado é digno
das mais severas e pesados formas de disciplina. Desta maneira, a igreja está
plenamente doutrinada e quando alguém tentar exortar o pecado de lideres na igreja, logo repetem um outro bordão conhecido “ Não julgueis, para que não sejais julgados.
Quando
o Senhor Jesus diz que alguém é hipócrita, Ele está julgando, está sentenciando
alguém diante de uma circunstância. Essa consideração ou avaliação é final,
porque Jesus não mente e nem falha.
Por
outro lado, qualquer pessoa da igreja que estiver agindo de modo errado, deve
ser duramente disciplinada.
I
Timóteo 5.20: Aos que pecarem, repreende-os na presença de todos, para que
também os outros tenham temor.
O
apóstolo Paulo confrontou até mesmo Pedro publicamente quando as ações dele
comprometeram a liberdade do Evangelho (Gl 2.11-14). Paulo tratou publicamente
com Himeneu e Alexandre quanto ao assunto referente a blasfêmia que cometeram
(1 Tm 1.20)Ele tratou publicamente com Alexandre, o latoeiro, por suas atividades
danosas (2Tm 4.14). Aqueles que abandonaram Paulo são citados por nome: Fígelo
e Hermógenes (2 Tm 1.15).Paulo cita por nome dois obreiros de maneira negativa
– Fígelo e Hermógenes – 2 Tm 1.15-18.
Seja
em profecia, seja em estudos bíblicos, seja pregando, cantando, tudo, tudo que
se manifesta na face da terra, usando o nome de Deus Pai e o nome do Senhor
Jesus Cristo é necessário saber o espírito que está produzindo o ato, quem é a
fonte do que está sendo manifestado.
O
apóstolo Paulo, em toda a carta aos Gálatas, pela Palavra de Deus que está nele
e nos ensina, julgou, todos aqueles que não vivem conforme a verdade do
evangelho da graça (Gálatas 1.6-12).
Paulo
exige o julgamento. Não é o bastante dizer que o servo de Cristo pode julgar. O
discípulo de Jesus é obrigado a julgar! Às vezes, alguém na igreja terá que
julgar outros irmãos para resolver problemas (1 Coríntios 6:1-5). Em geral,
todos nós temos que julgar todas as coisas, retendo o bem e rejeitando o mal (1
Tessalonicenses 5:21-22). Para discernir entre essas coisas, é necessário
crescer espiritualmente (Hebreus 5:12-14). As pessoas incapazes de julgar
continuam como crianças, como pessoas carnais (1 Coríntios 3:1).
Assim,
fica evidente que a Bíblia não oferece uma blindagem anticrítica a nenhum servo
de Deus. É evidente que todo servo de Deus merece respeito, que merece ser
honrado pelo trabalho que faz a Deus e ao próximo, porém, deve sempre estar
aberto a críticas construtivas, deve assumir seus erros quando os comete e até
mesmo deve aprender a abençoar os inimigos que criticam maldosamente assim como
Jesus ensinou (Mateus 5:44). Não existe qualquer “maldição” de Deus colocada
sobre as pessoas que de alguma forma questionam líderes. Infelizmente essa
questão de não tocar nos ungidos de Deus, tem sido usado para encobrir os
pecador de seus líderes e fazer terrorismo teológico para aqueles que buscam a
verdade através das escrituras.
Conclusão:
Os
pastores não são “donos” do rebanho de Deus e por este motivo não podem tratar
o rebanho de Deus de qualquer maneira e muito menos de maneiras que sejam
abusivas.
Pastores,
como diz o apóstolo Pedro, não passam de cooperadores submetidos ao Senhor
Jesus que é chamado de Supremo pastor – ver 1 Pedro 5:4. O motivo porque o
Senhor usa tão duras palavras foi expresso de forma perfeita pelo profeta
Jeremias quando diz: “Ai dos pastores que destroem e dispersam as ovelhas do
meu pasto! — diz o SENHOR – Jeremias 23:1.
Devemos
entender que hoje não existe um clero, mas apenas dons dados à igreja, e que
não existe na doutrina dos apóstolos um homem dirigindo uma congregação (o dom
de pastor é universal, não local), a
igreja de hoje se libertariam desse jugo e das algemas de medo que esses
líderes colocam.
Abaixo veremos videos que falam sobre o assunto:
Ed René Kivitz - Cobertura espiritual, "ungido do
Senhor" e disciplina na igreja.
Ariovaldo Ramos - Não existe pastor ungido!!!
Fontes de pesquisa:
http://tempora-mores.blogspot.com.br/2013/04/como-assim-nao-toqueis-no-ungido-do.html
|
http://www.vivos.com.br/387.htm
http://essenciadoevangelho.webnode.com.br/n%C3%A3o-toques-no-meu-ungido-/
http://igrejaredencao.org.br/index.php?option=com_content&view=article&id=1367:nao-toque-no-ungido-do-senhor&catid=17:pastoral&Itemid=114#.VwFMCPkrLIU
http://bereianos.blogspot.com.br/2010/06/as-igrejas-cristas-e-sua-tolerancia.html
Victor P. Hamilton, In: R. Laird Harris, Gleason L. Archer, Jr., e Bruce
K Waltke. Dicionário Internacional de Teologia do Antigo Testamento. São Paulo: Vida Nova,
2001.
Gerard van Groningen. Revelação Messiânica no Antigo Testamento. São Paulo: Cultura
Cristã, 2004.
A CONFISSÃO DE FÉ DE WESTMINSTER. São Paulo: Cultura Cristã, 2003.