sexta-feira, 22 de setembro de 2017

A SANTA CEIA DO SENHOR A LUZ DA BÍBLIA

Devemos lamentar o fato da ceia do Senhor, que simboliza a unidade da família de Deus, ser um assunto de tanta divisão e debate entre as igrejas.
Quase todas as igrejas que proclamam seguir a Cristo observam a Ceia do Senhor. O pão e o fruto da videira são elementos comuns nas assembleias de adoração de vários grupos religiosos. Mas há diferenças no entendimento a respeito desta comemoração. Neste artigo, examinaremos o que a Bíblia ensina sobre a Ceia do Senhor.

As diferentes visões sobre o tema:

A visão do Catolicismo Romano, chamada transubstanciação, ensina que o pão e o vinho da ceia do Senhor são “transformados no” corpo e sangue de Cristo quando abençoados pelo sacerdote. Essa visão coloca a fé de lado, pois tudo o que alguém precisa para receber a Cristo é comer o pão e beber o vinho. Isso também lança o fundamento para a Missa, pois quando o pão, que supostamente não é mais pão, mas sim corpo, é partido, então o sacrifício de Cristo é repetido novamente. A própria palavra Missa significa “sacrifício”.

A visão dos Luteranos,  ensina que o corpo físico e o sangue de Cristo estão presentes com o pão e o vinho. Essa visão, chamada consubstanciação, está sujeita às mesmas críticas que a visão do Catolicismo Romano, embora não inclua a doutrina da Missa. As duas ensinam a presença física de Cristo.
Segundo a opinião geral, a visão da maioria dos evangélicos era também a do reformador suíço do século dezesseis, Ulrico Zwínglio. Ela diz que Cristo não está presente na Ceia do Senhor, em nenhum sentido, mas que a ceia é apenas um memorial ou lembrança da morte de Cristo. Embora evitasse  claramente os erros do Romanismo e Luteranismo, todavia, essa visão não é bíblica, como veremos, e não explica o porquê a ceia do Senhor deve ser tratada com cuidado. Se a ceia é apenas uma lembrança, não há nenhuma necessidade de auto-exame e medo de “condenação” (1Co. 11:29).

A visão Reformada da ceia do Senhor é que Cristo está realmente presente, mas espiritualmente, não fisicamente. Ele está, em outras palavras, presente à fé do povo de Deus e tem comunhão com eles, alimentando-os consigo mesmo através da fé. Ele usa o pão e o vinho para dirigir a fé deles em direção a ele.

As duas ordenanças ou rituais de grande relevância para igreja:

A diferença entre os dois sacramentos reside no fato que o batismo representa a nossa entrada no pacto e comunhão com Deus, enquanto a ceia do Senhor representa nossa vida nesse pacto uma vez que tenhamos entrado. Os dois juntos, portanto, representam o todo da nossa vida cristã e mostram que ela é pela graça somente.
O testemunho único dos dois sacramentos é que Cristo e o seu sacrifício são tudo. A água do batismo mostra que entramos no pacto de Deus pela morte e sangue de Cristo, enquanto a ceia do Senhor diz que uma vez que tenhamos entrado no pacto e reino de Deus, a mesma morte e sangue de Cristo são nossa vida, alimento e força.

O simbolismo da ceia do Senhor tem vários elementos diferentes, todos eles enfatizando a comunhão e provisão de Deus, bem como o que significa viver no pacto de Deus. Primeiro, há a mesa em si. Esse elemento é tão importante que o sacramento é até mesmo chamado de “a mesa do Senhor” (1Co. 10:21). A mesa simboliza nosso lugar na família de Deus e o fato que o Senhor nos ama como um Pai e supre tudo o que necessitamos.

 Segundo, o pão e o vinho. Partido e derramado, eles simbolizam o corpo partido e o sangue derramado de Cristo como nossa comida e bebida espiritual diária, nosso alimento e refrigério, e os meios pelos quais nossa vida espiritual é alimentada, sustentada, cresce e se desenvolve, e é preservada para a vida eterna. 

O sacrifício de Cristo não é somente pagamento pelos nossos pecados e a forma na qual somos restaurados ao favor e comunhão de Deus, mas é também nossa força, alimento e ajuda diária, até que deixemos essa vida e entremos em nosso lar eterno. A ceia do Senhor diz que Cristo é tudo, e em todos.

 Terceiro, o comer e beber. Isso retrata nossa fé e nos mostra a importância e necessidade da fé. Comida e bebida não são de nenhum benefício sem o nosso comer e beber. O corpo partido e o sangue derramado de Cristo não são de nenhum benefício para nós sem fé. Não existe, como o Catolicismo Romano ensina, alguma bênção automática no comer e beber o pão e o vinho da ceia do Senhor. A Confissão Belga, um dos credos Reformados, chama a fé de “a mão e a boca da nossa alma”. Assim, o comer e beber na ceia do Senhor nos lembra que assim como tomamos e comemos nosso pão diário, e o recebemos em nosso corpo, assim pela fé realmente recebemos a Cristo, que pela fé habita em nós e é a nossa força e vida.

O ensino de Jesus sobre a ceia:

A Ceia do Senhor é a segunda ordenança da igreja. Foi instituída por Cristo na véspera de Sua traição e crucificação. E Cristo indicou que ela era para ser observada até Sua volta.
Foi durante a antiga celebração da Páscoa, na véspera de Sua morte, que Jesus instituiu uma nova e significante refeição, uma “refeição de comunhão”, a qual observamos até os dias de hoje, e que é a mais alta expressão da adoração cristã. É um “sermão vivido”, relembrando a morte de nosso Senhor e ressurreição, e vislumbrando o futuro em que retornará em Sua glória.
A Páscoa era a festividade mais sagrada do ano religioso judaico. Comemorava a praga final no Egito, quando os primogênitos dos egípcios morreram e os israelitas foram poupados por causa do sangue de um cordeiro que fora aspergido em seus portais. Então o cordeiro foi assado e comido com pão sem levedura. A ordem de Deus foi que através das gerações vindouras a festividade fosse celebrada. A história está registrada em Êxodo 12.
Quanto à natureza da refeição de Jesus com seus discípulos, de acordo com os relatos sinóticos, ela seguramente “tinha o caráter de celebração pascal.”  Pode-se chegar a essa conclusão observando a introdução à narrativa da última ceia do Evangelho de Lucas, bem como a linguagem sacrificial, que é comum em todas as narrativas sinóticas e também no texto paulino. 

O Evangelho de Lucas não deixa dúvida que o contexto da última ceia de Jesus com seus discípulos transcorreu numa cerimônia pascal:
“Chegada a hora, pôs-se Jesus à mesa, e com ele os apóstolos.  E disse-lhes: Tenho desejado ansiosamente comer convosco esta Páscoa, antes do meu sofrimento. Pois vos digo que nunca mais a comerei, até que ela se cumpra no reino de Deus.” (Lc 22.14-16).
Durante a celebração, Jesus e os discípulos possivelmente cantaram juntos um ou mais dos `Salmos Aleluia” (Salmos 111-118). Jesus, tomando o pão, deu graças a Deus. Ao parti-lo e distribuir aos discípulos, disse: “Tomai, comei; este é o Meu corpo que é partido por vós.” Do mesmo modo, tomou o cálice, e depois de ceiar, deu-lhes o cálice, e dele beberam. Ele disse: “Este cálice é o novo testamento no meu sangue, que é derramado por vós; fazei isto em memória de Mim.” Ele concluiu a ceia cantando um hino e eles saíram pela noite até ao Monte das Oliveiras. Foi lá que Jesus foi traído, como predito, por Judas. No dia seguinte, Ele foi crucificado.        


Paulo, inspirado pelo Espírito Santo, traz a seguinte advertência:

“Por isso, aquele que comer o pão ou beber o cálice do Senhor indignamente, será réu do corpo e do sangue do Senhor. Examine-se, pois, o homem a si mesmo, e assim coma do pão e beba do cálice, pois quem come e bebe sem discernir o corpo, come e bebe juízo para si. Eis a razão porque há entre vós muitos fracos e doentes, e não poucos que dormem. Porque, se nos julgássemos a nós mesmos, não seríamos julgados. Mas, quando julgados, somos disciplinados pelo Senhor, para não sermos condenados com o mundo.” (1 Coríntios 11:27-32).

Para compreendermos corretamente a mensagem do texto, precisamos avaliar o contexto (o que vem antes e o que vem depois desse texto). Observe que o versículo mencionado está dentro de uma sessão que vai dos versículos 17 ao 34. E é dentro desta sessão que encontramos a resposta que estamos buscando. É importante observar que a Palavra de Paulo é dirigida a igreja (aos crentes). É evidente que quem é descrente não deve participar da santa ceia, pois não teria significado algum.

Nos versículos 20 a 22 vemos claramente o que o apóstolo quis dizer com a expressão “indignamente”.

20  De sorte que, quando vos ajuntais num lugar, não é para comer a ceia do Senhor.
21  Porque, comendo, cada um toma antecipadamente a sua própria ceia; e assim um tem fome e outro embriaga-se.
   22  Não tendes porventura casas para comer e para beber? Ou desprezais a igreja      de Deus, e envergonhais os que nada têm? Que vos direi? Louvar-vos-ei? Nisto      não   vos louvo.

A palavra "indignamente" é freqüentemente mal entendida. Ela não descreve a dignidade da pessoa (ninguém é verdadeiramente digno de comunhão com Cristo).
Eles não estavam observando o modo correto de fazer a ceia, por isso, se afastaram de seu real significado. Estavam fazendo do jeito errado. “Quando vocês se reúnem, não é para comer a ceia do Senhor”. Vemos que a ceia perdeu seu significado, ficando vazia. Mas o que eles estavam fazendo errado?

Eles estavam tentando celebrar a ceia de forma dividida e não em unidade (como corpo de Cristo, igreja) como devia ser. Os ricos desprezavam aqueles que nada tinham ou eram pobres, fazendo sua própria ceia, enquanto os pobres ficavam desprezados num canto e também fazendo a ceia do seu jeito. “porque cada um come sua própria ceia sem esperar pelos outros. Assim, enquanto um fica com fome, outro se embriaga.”. Paulo condena essa desunião. Uma ceia dividida dentro da igreja não era a santa ceia que Cristo instituiu e, por isso, era pecado.

Os pobres eram envergonhados como se não fizessem parte do corpo de Cristo por serem pobres. “Não tendes, porventura, casas onde comer e beber? Ou menosprezais a igreja de Deus e envergonhais os que nada têm?”.

Dos versos 23 ao 26 Paulo relembra a eles o real significado da Santa Ceia.

Seguindo com sua orientação, Paulo busca uma correção para a questão, orientando uma mudança de atitude baseada na reflexão: “Examine-se, pois, o homem a si mesmo, e, assim, coma do pão, e beba do cálice; pois quem come e bebe sem discernir o corpo, come e bebe juízo para si.” (1Co 11. 28-29). Esse “examinar” está ligado à questão anterior, ou seja, examinar se da forma que está participando não está pecando contra seus irmãos na fé e consequentemente contra Deus. Paulo nos chama a examinar a seriedade do ato de participar da santa ceia como indivíduos que fazem parte de um corpo.
Paulo finaliza reiterando o caráter de união da ceia. União de todos os servos de Cristo. Participar da ceia com qualquer forma de desunião é comê-la indignamente.

“Assim, pois, irmãos meus, quando vos reunis para comer, esperai uns pelos outros.” (1Co 11. 33).

Para muitas pessoas, a Ceia é algo que as amedronta; preferem não participar dela quando não se sentem dignas, para não serem julgadas. Mas veja que a Bíblia não nos manda deixar de tomar, e sim fazer um auto-exame antes, pois se houver necessidade de acerto devemos fazê-lo o mais depressa possível (1 Jo 1.9).
Deixar de participar da mesa do Senhor é desonrá-la também! Devemos ansiar pelo momento em que dela partilharemos, e não evitá-la.


A Ceia, como ritual de aliança que é, destina-se, portanto, aos que já se encontram em aliança com Cristo; ou seja, aos que já nasceram de novo e estão em plena comunhão com Deus. Há igrejas que só servem a Ceia para quem pertence ao seu rol de membros; consideramos isto um grande erro, pois a Ceia do Senhor é para quem o serve de todo coração, independentemente de tal pessoa congregar em nossa igreja local ou não; se a pessoa faz parte do Corpo de Cristo na terra, então deve participar da mesa.
Há ainda, aqueles que afirmam só poder participar da Ceia do Senhor quem já se batizou nas águas, mas não há sustentação bíblica para isto; desde o momento em que a pessoa se comprometeu com Cristo em sua decisão ela já está dentro da aliança firmada por Jesus na cruz. Entendemos que o novo convertido deva ser encaminhado para o batismo tão logo seja possível.

Os critérios básicos são: estar aliançado com Cristo, e com vida espiritual em ordem. Contudo, não proibimos ninguém de participar, apenas ensinamos o que a Bíblia diz, para que cada pessoa julgue-se a si mesma. Nem Judas Iscariotes, em pecado e endemoninhado foi proibido por Jesus de participar da Ceia (Lc 22:3-21).

PASSADO – A SANTA CEIA COMEMORA ALGO JÁ REALIZADO (Mateus 26: 26-28)
  1. A Santa Ceia é um memorial da morte do Cordeiro de Deus: (Lucas 22:19).
  2. A Santa Ceia é um memorial da entrega total de Cristo: Corpo e sangue – Vida!
  3. A Santa Ceia é um memorial da libertação do cativeiro do pecado: Redenção!
II. PRESENTE – A SANTA CEIA PROMOVE A COMUNHÃO (Mateus 26:26-27, 30)
  1. A Santa Ceia é o momento de renovar nossa aliança com Cristo: “sangue da nova...”
  2. A Santa Ceia é um momento de comunhão com Deus e com os cristãos: “Aliança”
  3. A santa ceia é um momento de dar graças a Deus pelo que Ele fez, faz e fará por nós.
III. FUTURO – A SANTA CEIA É UM EMBLEMA PROFÉTICO (Mateus 26:29)
  1. Jesus declarou que aquela seria sua última ceia na terra: “Não beberei...”
  2. Jesus prometeu que só tomaria o suco da vide quando os cristãos estivessem com Ele no Céu: “àquele dia em que o beba de novo convosco...”
  3. Jesus afirmou que levaria os fiéis à Ceia realizada no Céu: “no reino de meu Pai”.

CONCLUSÃO:

Em nossos dias, mais do que nunca, precisamos reafirmar que a doutrina da Palavra de Deus precede, define e orienta a práxis da igreja. Dito isto, nosso grande desafio é a refirmar novamente o conteúdo doutrinário que Jesus instituiu na ceia com seus discípulos, que é o mesmo que Paulo aplicou à igreja de Corinto. Precisamos recuperar o significado sacrificial da Ceia do Senhor, para relembrando-o como sacramento da nova aliança. Precisamos ter comunhão pessoal com Cristo sem suprimir a verdade que “ele nos amou tanto que tomou sobre si a justiça divina para que pudéssemos ter livre passagem, para sempre.”  Sem o reconhecimento dessas verdades, definitivamente não é a ceia do Senhor que comemos. 

Ceia do Senhor é uma instituição de Cristo à Sua igreja: Desde o Calvário até as nuvens.
 Acredito que um pecado ocasional  não deve ser um empecilho para que você deixe de participar da ceia. Confesse o seu pecado e participe da ceia. A ceia é momento de (união) do povo de Deus e de relembrar o sacrifício do nosso Salvador, bem como, de avaliação interior e fortalecimento espiritual de cada um de nós e da igreja como um todo. Por isso, devemos refletir, tomar decisões para reparar possíveis erros e participar dela, fortalecendo-nos como indivíduos e como igreja (isso é comer a ceia dignamente).

Fontes de pesquisa:

ANYABWILE, T; DUNCAN, J.L. Batismo e Ceia do Senhor. IN: CARSON, D.A (ORG.). O Evangelho no Centro: renovando nossa fé e reformando nossa prática ministerial. São Paulo: FIEL, 2013;

WATSON, T. A ceia do Senhor. Recife: Puritanos, 2015;

MORRIS, L. 1 Coríntios. São Paulo: Vida Nova, 1981;

PRIOR, D. A mensagem de 1 Coríntios: a vida na igreja local. São Paulo: ABU, 2001;

BULTMANN, R. Teologia do Novo Testamento. São Paulo: Teológica, 2004;

BANNERMAN, J. A Igreja de Cristo – um tratado sobre a natureza, poderes, ordenanças, disciplina e governo da Igreja Cristã. Recife: Puritanos, 2014;

A Doutrina Reformada dos Sacramentos: edição em português: Dezembro/2007;

Biblia do Pregador. Barueri, S P : Sociedade BIbilca, do Brasil; Curitiba, PR : Editora Evangelica Esperanca, 2010;

Biblia de Estudo MacArthur. Barueri, SP. Sociedade Biblica do Brasil, 2010;

Pastor Calvin Gardner, As Ordenanças da Igreja: 1979 – 2013;