domingo, 3 de abril de 2016

CUIDADO! “NÃO TOQUEIS NOS MEUS UNGIDOS”?

A frase bíblica “Não toqueis nos meus ungidos” (Sl 105.15) tem sido empregada para os mais variados fins. Maus obreiros, falsos profetas, adoradores-ídolos e até políticos “evangélicos” se valem dela para ameaçar seus críticos. Crentes mal-orientados usam-na para defender o seu “ungido”, mesmo que ele defenda abertamente  coisa que são pecado perante a Bíblia. E outros ainda a empregam para reforçar a ideia de que não cabe aos servos de Deus julgar ou criticar heresias e práticas antibíblicas.

Todavia, a passagem mais conhecida é aquela em que Davi, sendo pressionado pelos seus homens para aproveitar a oportunidade de matar Saul na caverna, respondeu: "O Senhor me guarde de que eu faça tal coisa ao meu senhor, isto é, que eu estenda a mão contra ele [Saul], pois é o ungido do Senhor" (1Sm 24:6).

Usando também a história de Davi e Saul, esses pastores se dizem ungidos do Senhor e arrogam para si uma posição especial no meio do povo de Deus, posição essa que, segundo imaginam, os coloca acima da possibilidade de serem questionados ou mesmo corrigidos quando erram. E o pior é que — diga-se de passagem — geralmente, quem dá essa espécie de carteirada é um tipo de pastor que mais erra... um fariseu!!!    



Será que isso está correto?  Será que os pastores são os “ungidos do Senhor” e, por essa razão, são incriticáveis e intocáveis? Possuem eles algum tipo de imunidade, que o impede de ser admoestado, exortado a se arrepender de seus pecados? Vejamos a Bíblia!


A unção é a consequência direta do ato de ungir. No Antigo Testamento era muito comum derramar azeite (um símbolo visível) sobre a cabeça de uma pessoa com o objetivo de consagrá-la, santificá-la para um serviço especial. Isso era ungir a pessoa. Consequentemente, se a pessoa fosse fiel a Deus, seria e permaneceria cheia da unção do Senhor, seria um ungido. Eram homens escolhidos pelo Senhor para desempenharem os ofícios de rei, profeta e sacerdote.

Quando examinamos os contextos literário e histórico-cultural da frase acima, vemos que ela está longe de ser uma regra geral. Uma leitura atenta do Salmo 105 não nos deixa em dúvida: os ungidos mencionados são os patriarcas Abraão, Isaque, Jacó (Israel) e José (vv.9-17). Ademais, o título “ungido do Senhor” refere-se tipicamente, no Antigo Testamento, aos reis de Israel (1 Rs 12.3-5; 24.6-10; 26.9-23; Sl 20.6; Lm 4.20) e aos patriarcas, em geral (1 Cr 16.15-22).

Esta relutância de Davi em matar Saul por ser ele o ungido do Senhor tem sido interpretado por muitos evangélicos como um princípio bíblico referente aos pastores e líderes a ser observado em nossos dias, nas igrejas cristãs. Para eles, uma vez que os pastores, bispos e apóstolos são os ungidos do Senhor, não se pode levantar a mão contra eles, isto é, não se pode acusa-los, contraditá-los, questioná-los, criticá-los e muito menos mover-se qualquer ação contrária a eles. A unção do Senhor funcionaria como uma espécie de proteção e imunidade dada por Deus aos seus ungidos. Ir contra eles seria ir contra o próprio Deus.

Mas, o que não se pode ignorar é que este respeito pela vida do rei, não impediu Davi de confrontar Saul e acusá-lo de injustiça e perversidade em persegui-lo sem causa (1Sam 24:9-15). Davi não iria matá-lo, mas invocou a Deus como juiz contra Saul, diante de todo o exército de Israel, e pediu abertamente a Deus que castigasse Saul, vingando a ele, Davi (1Sam 24:12). Davi também dizia a seus aliados que a hora de Saul estava por chegar, quando o próprio Deus haveria de matá-lo por seus pecados (1Sam 26:9-10).

No entanto, de acordo com Gênesis 20.7, e em comparação com Salmos 105.15, embora proibido por Deus de tocar em Abraão, ungido do Senhor, e de causar dano físico ao profeta, o rei não vacilou em repreendê-lo pelo fato de haver mentido a respeito de Sara.
Tal repreensão, porém, não significa que Abimeleque, por haver atingido verbalmente Abraão, tenha desobedecido à ordem de não tocar no ungido de Deus.

O Novo Testamento apresenta uma expansão nesse conceito, mostrando que todos aqueles que estão unidos a Jesus Cristo, o verdadeiro Ungido do Senhor, são igualmente ungidos pelo Espírito Santo como profetas, sacerdotes e reis. O apóstolo Pedro faz uma afirmação nesse sentido: “Vós, porém, sois raça eleita, sacerdócio real, nação santa, povo de propriedade exclusiva de Deus, a fim de proclamardes as virtudes daquele que vos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz” (1Pedro 2.9). Os três ofícios são mencionados por Pedro: “sacerdócio real” (ofícios sacerdotal e real), e “a fim de proclamardes” (ofício profético). O apóstolo está falando de todos os verdadeiros crentes. Todos eles são “sacerdócio real”.

Lucas registra o cumprimento da profecia de Isaías sobre Cristo: “O Espírito do Senhor está sobre mim, pelo que me ungiu” (Lc. 4:18 cf. 61:1-3 – grifo meu). Veja que Jesus foi ungido pelo Espírito Santo. Não houve uma solenidade para que fosse ungido com derramamento de óleo, isto é, que sobre a Sua cabeça fosse derramado óleo, para confirmar Seu ministério. Isto devido à Pessoa do Espírito Santo.

Hoje a unção está no crente. É a Pessoa do Espírito Santo. Jesus disse “pois habita convosco, e estará em vós” (Jo. 14:17). Paulo declara que fora ungido, porém não há registro bíblico que diga que sobre ele tenha sido derramado (literalmente) algum tipo de óleo (2 Co. 1:21 cf. At. 9:17,18). João falou que a unção que o redimido recebe é verdadeira, e nesta unção deve permanecer, a autoridade e poder que Cristo tinha vinha pelo Espírito Santo, o mesmo poder e autoridade estão à disposição da Igreja na Pessoa do Espírito Santo (At. 1:8).

Resumindo pastores, bispos não são sacerdotes, todos os crentes são “ungidos de Deus” (e não somente os líderes).
Se alguém, agir como o rei Saul, que foi um dia ungido por Deus, não cabe a nós matá-lo espiritualmente, condená-lo ao Inferno. Entretanto, isso não significa que devamos silenciar ou concordar com todos os seus desvios do Evangelho (Fp 1.16; Tt 1.10,11). O próprio Jônatas reconheceu que seu pai turbara a terra; e, por essa razão, descumpriu, acertadamente, as suas ordens (1 Sm 14.24-29).

Infelizmente, muitos líderes, pregadores, cantores e crentes em geral, considerando-se ungidos ou profetas, escondem-se atrás do bordão em análise, mentem e cometem todo tipo de pecado, além de torcerem a Palavra de Deus. Caso não se arrependam, serão réus naquele grande Dia! Os seus fabulosos currículos — “profetizamos”, “expulsamos”, “fizemos” — não os livrarão do juízo (Mt 7.21-23).
Não existem cristãos mais ungidos que outros cristãos. E, definitivamente, não existem "ministérios ungidos".

O texto de 2 Coríntios 1:21 - 22 diz: "Mas aquele que nos confirma convosco em Cristo e nos ungiu é Deus, que também nos selou e nos deu o penhor do Espírito em nosso coração". Estes dois versos ensinam claramente que só existe uma unção e que todos os cristãos são participantes desta unção, pois o repartir da mesma é um ato do próprio Deus.
Pastores que se denominam “ungidos” costumam ensinar suas ovelhas que toda insubordinação e desobediência é pecado grave e que este tipo de pecado é digno das mais severas e pesados formas de disciplina. Desta maneira, a igreja está plenamente doutrinada e quando alguém tentar  exortar  o pecado de lideres na igreja,  logo repetem um outro bordão conhecido “ Não julgueis, para que não sejais julgados. 

Quando o Senhor Jesus diz que alguém é hipócrita, Ele está julgando, está sentenciando alguém diante de uma circunstância. Essa consideração ou avaliação é final, porque Jesus não mente e nem falha.
Por outro lado, qualquer pessoa da igreja que estiver agindo de modo errado, deve ser duramente disciplinada.
I Timóteo 5.20: Aos que pecarem, repreende-os na presença de todos, para que também os outros tenham temor.

O apóstolo Paulo confrontou até mesmo Pedro publicamente quando as ações dele comprometeram a liberdade do Evangelho (Gl 2.11-14). Paulo tratou publicamente com Himeneu e Alexandre quanto ao assunto referente a blasfêmia que cometeram (1 Tm 1.20)Ele tratou publicamente com Alexandre, o latoeiro, por suas atividades danosas (2Tm 4.14). Aqueles que abandonaram Paulo são citados por nome: Fígelo e Hermógenes (2 Tm 1.15).Paulo cita por nome dois obreiros de maneira negativa – Fígelo e Hermógenes – 2 Tm 1.15-18.

Seja em profecia, seja em estudos bíblicos, seja pregando, cantando, tudo, tudo que se manifesta na face da terra, usando o nome de Deus Pai e o nome do Senhor Jesus Cristo é necessário saber o espírito que está produzindo o ato, quem é a fonte do que está sendo manifestado.

O apóstolo Paulo, em toda a carta aos Gálatas, pela Palavra de Deus que está nele e nos ensina, julgou, todos aqueles que não vivem conforme a verdade do evangelho da graça (Gálatas 1.6-12).

Paulo exige o julgamento. Não é o bastante dizer que o servo de Cristo pode julgar. O discípulo de Jesus é obrigado a julgar! Às vezes, alguém na igreja terá que julgar outros irmãos para resolver problemas (1 Coríntios 6:1-5). Em geral, todos nós temos que julgar todas as coisas, retendo o bem e rejeitando o mal (1 Tessalonicenses 5:21-22). Para discernir entre essas coisas, é necessário crescer espiritualmente (Hebreus 5:12-14). As pessoas incapazes de julgar continuam como crianças, como pessoas carnais (1 Coríntios 3:1).

Assim, fica evidente que a Bíblia não oferece uma blindagem anticrítica a nenhum servo de Deus. É evidente que todo servo de Deus merece respeito, que merece ser honrado pelo trabalho que faz a Deus e ao próximo, porém, deve sempre estar aberto a críticas construtivas, deve assumir seus erros quando os comete e até mesmo deve aprender a abençoar os inimigos que criticam maldosamente assim como Jesus ensinou (Mateus 5:44). Não existe qualquer “maldição” de Deus colocada sobre as pessoas que de alguma forma questionam líderes. Infelizmente essa questão de não tocar nos ungidos de Deus, tem sido usado para encobrir os pecador de seus líderes e fazer terrorismo teológico para aqueles que buscam a verdade através das escrituras. 

Conclusão:

Os pastores não são “donos” do rebanho de Deus e por este motivo não podem tratar o rebanho de Deus de qualquer maneira e muito menos de maneiras que sejam abusivas.
Pastores, como diz o apóstolo Pedro, não passam de cooperadores submetidos ao Senhor Jesus que é chamado de Supremo pastor – ver 1 Pedro 5:4. O motivo porque o Senhor usa tão duras palavras foi expresso de forma perfeita pelo profeta Jeremias quando diz: “Ai dos pastores que destroem e dispersam as ovelhas do meu pasto! — diz o SENHOR – Jeremias 23:1.

Devemos entender que hoje não existe um clero, mas apenas dons dados à igreja, e que não existe na doutrina dos apóstolos um homem dirigindo uma congregação (o dom de pastor é universal, não local),  a igreja de hoje se libertariam desse jugo e das algemas de medo que esses líderes colocam.


Abaixo veremos videos que falam sobre o assunto:



Ed René Kivitz - Cobertura espiritual, "ungido do
Senhor" e disciplina na igreja.        




Ariovaldo Ramos - Não existe pastor ungido!!!



    http://www.vivos.com.br/387.htm





http://essenciadoevangelho.webnode.com.br/n%C3%A3o-toques-no-meu-ungido-/

http://igrejaredencao.org.br/index.php?option=com_content&view=article&id=1367:nao-toque-no-ungido-do-senhor&catid=17:pastoral&Itemid=114#.VwFMCPkrLIU

http://bereianos.blogspot.com.br/2010/06/as-igrejas-cristas-e-sua-tolerancia.html

Victor P. Hamilton, In: R. Laird Harris, Gleason L. Archer, Jr., e Bruce K Waltke. Dicionário Internacional de Teologia do Antigo Testamento. São Paulo: Vida Nova, 2001.

Gerard van Groningen. Revelação Messiânica no Antigo Testamento. São Paulo: Cultura Cristã, 2004.

A CONFISSÃO DE FÉ DE WESTMINSTER. São Paulo: Cultura Cristã, 2003.