sexta-feira, 22 de setembro de 2017

A SANTA CEIA DO SENHOR A LUZ DA BÍBLIA

Devemos lamentar o fato da ceia do Senhor, que simboliza a unidade da família de Deus, ser um assunto de tanta divisão e debate entre as igrejas.
Quase todas as igrejas que proclamam seguir a Cristo observam a Ceia do Senhor. O pão e o fruto da videira são elementos comuns nas assembleias de adoração de vários grupos religiosos. Mas há diferenças no entendimento a respeito desta comemoração. Neste artigo, examinaremos o que a Bíblia ensina sobre a Ceia do Senhor.

As diferentes visões sobre o tema:

A visão do Catolicismo Romano, chamada transubstanciação, ensina que o pão e o vinho da ceia do Senhor são “transformados no” corpo e sangue de Cristo quando abençoados pelo sacerdote. Essa visão coloca a fé de lado, pois tudo o que alguém precisa para receber a Cristo é comer o pão e beber o vinho. Isso também lança o fundamento para a Missa, pois quando o pão, que supostamente não é mais pão, mas sim corpo, é partido, então o sacrifício de Cristo é repetido novamente. A própria palavra Missa significa “sacrifício”.

A visão dos Luteranos,  ensina que o corpo físico e o sangue de Cristo estão presentes com o pão e o vinho. Essa visão, chamada consubstanciação, está sujeita às mesmas críticas que a visão do Catolicismo Romano, embora não inclua a doutrina da Missa. As duas ensinam a presença física de Cristo.
Segundo a opinião geral, a visão da maioria dos evangélicos era também a do reformador suíço do século dezesseis, Ulrico Zwínglio. Ela diz que Cristo não está presente na Ceia do Senhor, em nenhum sentido, mas que a ceia é apenas um memorial ou lembrança da morte de Cristo. Embora evitasse  claramente os erros do Romanismo e Luteranismo, todavia, essa visão não é bíblica, como veremos, e não explica o porquê a ceia do Senhor deve ser tratada com cuidado. Se a ceia é apenas uma lembrança, não há nenhuma necessidade de auto-exame e medo de “condenação” (1Co. 11:29).

A visão Reformada da ceia do Senhor é que Cristo está realmente presente, mas espiritualmente, não fisicamente. Ele está, em outras palavras, presente à fé do povo de Deus e tem comunhão com eles, alimentando-os consigo mesmo através da fé. Ele usa o pão e o vinho para dirigir a fé deles em direção a ele.

As duas ordenanças ou rituais de grande relevância para igreja:

A diferença entre os dois sacramentos reside no fato que o batismo representa a nossa entrada no pacto e comunhão com Deus, enquanto a ceia do Senhor representa nossa vida nesse pacto uma vez que tenhamos entrado. Os dois juntos, portanto, representam o todo da nossa vida cristã e mostram que ela é pela graça somente.
O testemunho único dos dois sacramentos é que Cristo e o seu sacrifício são tudo. A água do batismo mostra que entramos no pacto de Deus pela morte e sangue de Cristo, enquanto a ceia do Senhor diz que uma vez que tenhamos entrado no pacto e reino de Deus, a mesma morte e sangue de Cristo são nossa vida, alimento e força.

O simbolismo da ceia do Senhor tem vários elementos diferentes, todos eles enfatizando a comunhão e provisão de Deus, bem como o que significa viver no pacto de Deus. Primeiro, há a mesa em si. Esse elemento é tão importante que o sacramento é até mesmo chamado de “a mesa do Senhor” (1Co. 10:21). A mesa simboliza nosso lugar na família de Deus e o fato que o Senhor nos ama como um Pai e supre tudo o que necessitamos.

 Segundo, o pão e o vinho. Partido e derramado, eles simbolizam o corpo partido e o sangue derramado de Cristo como nossa comida e bebida espiritual diária, nosso alimento e refrigério, e os meios pelos quais nossa vida espiritual é alimentada, sustentada, cresce e se desenvolve, e é preservada para a vida eterna. 

O sacrifício de Cristo não é somente pagamento pelos nossos pecados e a forma na qual somos restaurados ao favor e comunhão de Deus, mas é também nossa força, alimento e ajuda diária, até que deixemos essa vida e entremos em nosso lar eterno. A ceia do Senhor diz que Cristo é tudo, e em todos.

 Terceiro, o comer e beber. Isso retrata nossa fé e nos mostra a importância e necessidade da fé. Comida e bebida não são de nenhum benefício sem o nosso comer e beber. O corpo partido e o sangue derramado de Cristo não são de nenhum benefício para nós sem fé. Não existe, como o Catolicismo Romano ensina, alguma bênção automática no comer e beber o pão e o vinho da ceia do Senhor. A Confissão Belga, um dos credos Reformados, chama a fé de “a mão e a boca da nossa alma”. Assim, o comer e beber na ceia do Senhor nos lembra que assim como tomamos e comemos nosso pão diário, e o recebemos em nosso corpo, assim pela fé realmente recebemos a Cristo, que pela fé habita em nós e é a nossa força e vida.

O ensino de Jesus sobre a ceia:

A Ceia do Senhor é a segunda ordenança da igreja. Foi instituída por Cristo na véspera de Sua traição e crucificação. E Cristo indicou que ela era para ser observada até Sua volta.
Foi durante a antiga celebração da Páscoa, na véspera de Sua morte, que Jesus instituiu uma nova e significante refeição, uma “refeição de comunhão”, a qual observamos até os dias de hoje, e que é a mais alta expressão da adoração cristã. É um “sermão vivido”, relembrando a morte de nosso Senhor e ressurreição, e vislumbrando o futuro em que retornará em Sua glória.
A Páscoa era a festividade mais sagrada do ano religioso judaico. Comemorava a praga final no Egito, quando os primogênitos dos egípcios morreram e os israelitas foram poupados por causa do sangue de um cordeiro que fora aspergido em seus portais. Então o cordeiro foi assado e comido com pão sem levedura. A ordem de Deus foi que através das gerações vindouras a festividade fosse celebrada. A história está registrada em Êxodo 12.
Quanto à natureza da refeição de Jesus com seus discípulos, de acordo com os relatos sinóticos, ela seguramente “tinha o caráter de celebração pascal.”  Pode-se chegar a essa conclusão observando a introdução à narrativa da última ceia do Evangelho de Lucas, bem como a linguagem sacrificial, que é comum em todas as narrativas sinóticas e também no texto paulino. 

O Evangelho de Lucas não deixa dúvida que o contexto da última ceia de Jesus com seus discípulos transcorreu numa cerimônia pascal:
“Chegada a hora, pôs-se Jesus à mesa, e com ele os apóstolos.  E disse-lhes: Tenho desejado ansiosamente comer convosco esta Páscoa, antes do meu sofrimento. Pois vos digo que nunca mais a comerei, até que ela se cumpra no reino de Deus.” (Lc 22.14-16).
Durante a celebração, Jesus e os discípulos possivelmente cantaram juntos um ou mais dos `Salmos Aleluia” (Salmos 111-118). Jesus, tomando o pão, deu graças a Deus. Ao parti-lo e distribuir aos discípulos, disse: “Tomai, comei; este é o Meu corpo que é partido por vós.” Do mesmo modo, tomou o cálice, e depois de ceiar, deu-lhes o cálice, e dele beberam. Ele disse: “Este cálice é o novo testamento no meu sangue, que é derramado por vós; fazei isto em memória de Mim.” Ele concluiu a ceia cantando um hino e eles saíram pela noite até ao Monte das Oliveiras. Foi lá que Jesus foi traído, como predito, por Judas. No dia seguinte, Ele foi crucificado.        


Paulo, inspirado pelo Espírito Santo, traz a seguinte advertência:

“Por isso, aquele que comer o pão ou beber o cálice do Senhor indignamente, será réu do corpo e do sangue do Senhor. Examine-se, pois, o homem a si mesmo, e assim coma do pão e beba do cálice, pois quem come e bebe sem discernir o corpo, come e bebe juízo para si. Eis a razão porque há entre vós muitos fracos e doentes, e não poucos que dormem. Porque, se nos julgássemos a nós mesmos, não seríamos julgados. Mas, quando julgados, somos disciplinados pelo Senhor, para não sermos condenados com o mundo.” (1 Coríntios 11:27-32).

Para compreendermos corretamente a mensagem do texto, precisamos avaliar o contexto (o que vem antes e o que vem depois desse texto). Observe que o versículo mencionado está dentro de uma sessão que vai dos versículos 17 ao 34. E é dentro desta sessão que encontramos a resposta que estamos buscando. É importante observar que a Palavra de Paulo é dirigida a igreja (aos crentes). É evidente que quem é descrente não deve participar da santa ceia, pois não teria significado algum.

Nos versículos 20 a 22 vemos claramente o que o apóstolo quis dizer com a expressão “indignamente”.

20  De sorte que, quando vos ajuntais num lugar, não é para comer a ceia do Senhor.
21  Porque, comendo, cada um toma antecipadamente a sua própria ceia; e assim um tem fome e outro embriaga-se.
   22  Não tendes porventura casas para comer e para beber? Ou desprezais a igreja      de Deus, e envergonhais os que nada têm? Que vos direi? Louvar-vos-ei? Nisto      não   vos louvo.

A palavra "indignamente" é freqüentemente mal entendida. Ela não descreve a dignidade da pessoa (ninguém é verdadeiramente digno de comunhão com Cristo).
Eles não estavam observando o modo correto de fazer a ceia, por isso, se afastaram de seu real significado. Estavam fazendo do jeito errado. “Quando vocês se reúnem, não é para comer a ceia do Senhor”. Vemos que a ceia perdeu seu significado, ficando vazia. Mas o que eles estavam fazendo errado?

Eles estavam tentando celebrar a ceia de forma dividida e não em unidade (como corpo de Cristo, igreja) como devia ser. Os ricos desprezavam aqueles que nada tinham ou eram pobres, fazendo sua própria ceia, enquanto os pobres ficavam desprezados num canto e também fazendo a ceia do seu jeito. “porque cada um come sua própria ceia sem esperar pelos outros. Assim, enquanto um fica com fome, outro se embriaga.”. Paulo condena essa desunião. Uma ceia dividida dentro da igreja não era a santa ceia que Cristo instituiu e, por isso, era pecado.

Os pobres eram envergonhados como se não fizessem parte do corpo de Cristo por serem pobres. “Não tendes, porventura, casas onde comer e beber? Ou menosprezais a igreja de Deus e envergonhais os que nada têm?”.

Dos versos 23 ao 26 Paulo relembra a eles o real significado da Santa Ceia.

Seguindo com sua orientação, Paulo busca uma correção para a questão, orientando uma mudança de atitude baseada na reflexão: “Examine-se, pois, o homem a si mesmo, e, assim, coma do pão, e beba do cálice; pois quem come e bebe sem discernir o corpo, come e bebe juízo para si.” (1Co 11. 28-29). Esse “examinar” está ligado à questão anterior, ou seja, examinar se da forma que está participando não está pecando contra seus irmãos na fé e consequentemente contra Deus. Paulo nos chama a examinar a seriedade do ato de participar da santa ceia como indivíduos que fazem parte de um corpo.
Paulo finaliza reiterando o caráter de união da ceia. União de todos os servos de Cristo. Participar da ceia com qualquer forma de desunião é comê-la indignamente.

“Assim, pois, irmãos meus, quando vos reunis para comer, esperai uns pelos outros.” (1Co 11. 33).

Para muitas pessoas, a Ceia é algo que as amedronta; preferem não participar dela quando não se sentem dignas, para não serem julgadas. Mas veja que a Bíblia não nos manda deixar de tomar, e sim fazer um auto-exame antes, pois se houver necessidade de acerto devemos fazê-lo o mais depressa possível (1 Jo 1.9).
Deixar de participar da mesa do Senhor é desonrá-la também! Devemos ansiar pelo momento em que dela partilharemos, e não evitá-la.


A Ceia, como ritual de aliança que é, destina-se, portanto, aos que já se encontram em aliança com Cristo; ou seja, aos que já nasceram de novo e estão em plena comunhão com Deus. Há igrejas que só servem a Ceia para quem pertence ao seu rol de membros; consideramos isto um grande erro, pois a Ceia do Senhor é para quem o serve de todo coração, independentemente de tal pessoa congregar em nossa igreja local ou não; se a pessoa faz parte do Corpo de Cristo na terra, então deve participar da mesa.
Há ainda, aqueles que afirmam só poder participar da Ceia do Senhor quem já se batizou nas águas, mas não há sustentação bíblica para isto; desde o momento em que a pessoa se comprometeu com Cristo em sua decisão ela já está dentro da aliança firmada por Jesus na cruz. Entendemos que o novo convertido deva ser encaminhado para o batismo tão logo seja possível.

Os critérios básicos são: estar aliançado com Cristo, e com vida espiritual em ordem. Contudo, não proibimos ninguém de participar, apenas ensinamos o que a Bíblia diz, para que cada pessoa julgue-se a si mesma. Nem Judas Iscariotes, em pecado e endemoninhado foi proibido por Jesus de participar da Ceia (Lc 22:3-21).

PASSADO – A SANTA CEIA COMEMORA ALGO JÁ REALIZADO (Mateus 26: 26-28)
  1. A Santa Ceia é um memorial da morte do Cordeiro de Deus: (Lucas 22:19).
  2. A Santa Ceia é um memorial da entrega total de Cristo: Corpo e sangue – Vida!
  3. A Santa Ceia é um memorial da libertação do cativeiro do pecado: Redenção!
II. PRESENTE – A SANTA CEIA PROMOVE A COMUNHÃO (Mateus 26:26-27, 30)
  1. A Santa Ceia é o momento de renovar nossa aliança com Cristo: “sangue da nova...”
  2. A Santa Ceia é um momento de comunhão com Deus e com os cristãos: “Aliança”
  3. A santa ceia é um momento de dar graças a Deus pelo que Ele fez, faz e fará por nós.
III. FUTURO – A SANTA CEIA É UM EMBLEMA PROFÉTICO (Mateus 26:29)
  1. Jesus declarou que aquela seria sua última ceia na terra: “Não beberei...”
  2. Jesus prometeu que só tomaria o suco da vide quando os cristãos estivessem com Ele no Céu: “àquele dia em que o beba de novo convosco...”
  3. Jesus afirmou que levaria os fiéis à Ceia realizada no Céu: “no reino de meu Pai”.

CONCLUSÃO:

Em nossos dias, mais do que nunca, precisamos reafirmar que a doutrina da Palavra de Deus precede, define e orienta a práxis da igreja. Dito isto, nosso grande desafio é a refirmar novamente o conteúdo doutrinário que Jesus instituiu na ceia com seus discípulos, que é o mesmo que Paulo aplicou à igreja de Corinto. Precisamos recuperar o significado sacrificial da Ceia do Senhor, para relembrando-o como sacramento da nova aliança. Precisamos ter comunhão pessoal com Cristo sem suprimir a verdade que “ele nos amou tanto que tomou sobre si a justiça divina para que pudéssemos ter livre passagem, para sempre.”  Sem o reconhecimento dessas verdades, definitivamente não é a ceia do Senhor que comemos. 

Ceia do Senhor é uma instituição de Cristo à Sua igreja: Desde o Calvário até as nuvens.
 Acredito que um pecado ocasional  não deve ser um empecilho para que você deixe de participar da ceia. Confesse o seu pecado e participe da ceia. A ceia é momento de (união) do povo de Deus e de relembrar o sacrifício do nosso Salvador, bem como, de avaliação interior e fortalecimento espiritual de cada um de nós e da igreja como um todo. Por isso, devemos refletir, tomar decisões para reparar possíveis erros e participar dela, fortalecendo-nos como indivíduos e como igreja (isso é comer a ceia dignamente).

Fontes de pesquisa:

ANYABWILE, T; DUNCAN, J.L. Batismo e Ceia do Senhor. IN: CARSON, D.A (ORG.). O Evangelho no Centro: renovando nossa fé e reformando nossa prática ministerial. São Paulo: FIEL, 2013;

WATSON, T. A ceia do Senhor. Recife: Puritanos, 2015;

MORRIS, L. 1 Coríntios. São Paulo: Vida Nova, 1981;

PRIOR, D. A mensagem de 1 Coríntios: a vida na igreja local. São Paulo: ABU, 2001;

BULTMANN, R. Teologia do Novo Testamento. São Paulo: Teológica, 2004;

BANNERMAN, J. A Igreja de Cristo – um tratado sobre a natureza, poderes, ordenanças, disciplina e governo da Igreja Cristã. Recife: Puritanos, 2014;

A Doutrina Reformada dos Sacramentos: edição em português: Dezembro/2007;

Biblia do Pregador. Barueri, S P : Sociedade BIbilca, do Brasil; Curitiba, PR : Editora Evangelica Esperanca, 2010;

Biblia de Estudo MacArthur. Barueri, SP. Sociedade Biblica do Brasil, 2010;

Pastor Calvin Gardner, As Ordenanças da Igreja: 1979 – 2013;






                    

segunda-feira, 26 de junho de 2017

"DIZIMO" SEU PASTOR TE DIZ A VERDADE?



Em nenhum estudo protestante nas igrejas contemporâneas  sobre o dízimo encontrei uma análise, profunda que fosse, das idéias e dos conceitos contidos nas leis da Torá que procurasse transpor de uma forma equilibrada aquelas lições para o contexto moderno. O que se vê é uma aplicação direta e imediata do Antigo Testamento, sem qualquer preocupação em avaliar até onde é próprio e válido fazer tal aplicação para a nova aliança.

É preciso dizer que para a maioria desses autores, o texto fundamental sobre o dízimo  resume-se à passagem de Malaquias (3:8-11), uma ótica errada, que prestigia as grandes estruturas, a pompa eclesiástica e templos suntuosos, deixando de lado as preocupações verdadeiramente cristãs da caridade e do amor fraternal.

os estudos sobre o assunto na sua maioria, apresentam uma estrutura bastante semelhante: um breve comentário sobre textos do Antigo  Testamento (em geral Malaquias...), uma demonstração categórica de que o dízimo também é uma doutrina do Novo Testamento, 

especificamente apoiada por Jesus, seguida de alguma interpretação dos textos da carta aos Hebreus, e terminando com um duplo apelo:
à fidelidade na contribuição e para que se faça um “teste” para ver se Deus não derramará bênçãos sobre o contribuinte.

Começo aqui fazendo uma pergunta:



“Foi Jesus dizimista?

Para aqueles simpatizantes do tema, sem fazer qualquer observação nas escrituras bíblicas, responderam:



sim, não só ensinou como praticou, baseado em Mateus 23:23.



Qualquer estudante sério do judaísmo sabe: 

O dízimo em Israel é dado sobre os produtos da terra, e sendo Jesus um artesão manual (carpinteiro), dificilmente daria o dízimo.


Dízimo antes da lei:


Jacó prometeu dar a Deus dízimos de tudo que recebesse (Gênesis 28:22), mas a Bíblia não relata se essa promessa foi cumprida e com qual frequência.

Quanto a Abrão, é interessante mencionar que apesar de ser riquíssimo (Gênesis 13:2), este não entregou coisa alguma do que já possuía a Melquisedeque, mas somente dos despojos (Hebreus 7:4) obtidos durante a batalha relatada em Gênesis 14. Abrão guerreou pelo fato de Ló, seu sobrinho, que morava em Sodoma, ter sido levado cativo (Gênesis 14:12) pelos reis de Elão, Goim, Sinar e Elasar (Gênesis 14:9), que haviam derrotado os reis de Sodoma, Gomorra, Admá, Zeboim e Belá (Gênesis 14:8).

Abrão juntamente com seus criados, 318 no total (Gn 14:14), saíram à peleja e voltaram com Ló, sua família, bens e os bens de Sodoma. Dos despojos dos quatro reis, Abrão entregou a décima parte a Melquisedeque. O restante ficou com ele. Dos bens de Sodoma, Abrão não quis tomar para si nem uma única tira de uma sandália ou um fio de uma roupa, ainda que tivesse direito, o que explica a proposta do rei de Sodoma “Dá-me a mim as pessoas, e os bens toma para ti.” (Gênesis 14:21).



Não há outro registro informando que Abrão tenha dizimado novamente, apesar de ter vivido 175 anos (Gênesis 25:7).




Dízimo durante o período da lei:

Por volta do ano 1500 antes de Cristo, quando o Pentateuco começou a ser escrito por Moisés, o dinheiro (em hebraico כֶּסֶּף - kesef) já existia, como vemos em Gênesis 17:12, Deuteronômio 14:25, Êxodo 12-44, Números 3:49. Apesar disso, de acordo com a lei, o povo deveria dizimar apenas dos rebanhos e cereais, conforme Deuteronômio 14:22, Levítico 27:30, Êxodo 34:2; 26, 1 Samuel 8:17, etc.
"Também todas as dízimas do campo, da semente do campo, do fruto das árvores, são do SENHOR; santas são ao SENHOR." (Levítico 27:30)

o dízimo na lei era obrigatório e baseado na PRODUÇÃO (agrária). Os meios agrários (da terra) e o dízimo agrário eram baseados no que se conseguia PRODUZIR na terra, em plantações e animais.

Durante o tempo da lei agrária a troca e substituição de produtos do dízimo era comum, mas também havia SISTEMAS MONETÁRIOS em vigor (Gênesis 23:15-16 e 42:25; Jeremias32:9-11; Deuteronômio 14:25 e Malaquias 3:5). Mesmo assim, permanecia o dízimo agrário (baseado na terra).

OBSERVAÇÃO:

Na lei, houve [somente] uma exceção para se converter o dízimo em dinheiro. Segundo muitos eruditos, tal exceção foi mais tarde abolida. Deuteronômio 14:24-27 mostra essa antiga exceção, provando que sistemas financeiros estavam em vigor, sem que o dizimo fosse baseado em dinheiro. Nessa antiga exceção, poder-se-ia vender o dízimo [da produção da terra] em circunstâncias específicas, para se gastar o dinheiro no que se desejasse, contanto que isso fosse compartilhado com o levita local. Esses versos também deixam claro que “se a distância fosse longa demais para CARREGAR O SEU DÍZIMO”, provando que o dízimo NÃO era baseado em dinheiro. O Novo Testamento mostra os fariseus dizimando não sobre o lucro ou dinheiro, mas sobre o que eles POSSUÍAM E CULTIVAVAM (Lucas 18:12; Mateus 23:23), mostrando que o dízimo era [baseado nos] LUCRO e PRODUÇÃO AGRÁRIA.

No tempo da Lei, o dizimo era cobrado de todo mundo como é feito hoje nas denominações?

Nenhum dízimo era exigido dos pobres. Nem também provinha o mesmo das mãos do artesão ou do seu ofício. Somente os fazendeiros e pecuaristas possuíam o que era definido como ganho ao dízimo. Jesus era carpinteiro; Paulo era artesão de tendas e Pedro era pescador.

Nenhuma dessas ocupações os qualificava como pagadores do dízimo, visto como não cultivavam a terra nem possuíam rebanhos para o seu sustento. Desse modo, é incorreto ensinar que todo mundo pagava a exigência mínima de um dízimo e, então, que dos cristãos da Nova Aliança deveria ser exigido, apenas para início, esse mesmo mínimo da Velha Aliança dos israelitas. Esta afirmação é comumente repetida nas igrejas, ignorando completamente a exata definição do dízimo como alimento obtido nas fazendas e no aumento dos rebanhos.

Também é errado ensinar que era exigido dos pobres de Israel que estes pagassem o dízimo. Na verdade, eles até recebiam dízimos. Boa parte do dízimo dos festivais era entregue aos pobres. De fato, muitas leis protegiam os pobres do abuso dos sacrifícios dispendiosos, para os quais eles não podiam ofertar. (Vamos ler Levítico 14:21; 25:6,25- 28,35,36; 27:8; Deuteronômio 12:1-19; 14:23,28-29; 15:7,8,11; 24:12,14,15,19,20; 26:11-13; Malaquias 3:5; Mateus 12:1,2; Marcos 2:23-24; Lucas 2:22-24; 6:1-2; 2 Coríntios 8:12- 14; 1 Timóteo 5:8; Tiago 1:27).

Com base me Mateus  23:23, podemos dizer que Jesus ensinou a igreja a dizimar?

Essa é a única ocorrência explícita sobre dízimo nas palavras de Jesus, com as quais Ele censura os fariseus pela sua hipocrisia, pois eram meticulosos na hora de dizimar, observando até as menores porções de tempero colhidos no campo, mas fechavam os olhos para a pobreza e os desajustes sociais.
É incrível a habilidade de muitos pregadores para se tirar versículos do contexto, o que fatalmente redunda em heresia. Porque se pretendem obedecer o que Jesus mandou fazer neste versículo, devem obedecer o capítulo inteiro. Por que não observam o versículo 3, que está dentro do contexto?

Todas as coisas, pois, que vos disserem que observeis, observai-as e fazei-as; mas não procedais em conformidade com as suas obras, porque dizem e não fazem (Mt 23.3).

O dizimo é dado em dinheiro hoje porque antes não havia dinheiro?


Mesmo quando havia metais preciosos como moeda corrente. Abraão, na sua época, comprou uma sepultura para sua esposa por 400 ciclos de prata (Gn 23.15-16).

O dinheiro existia bem antes do período da lei iniciar e não era só o dinheiro, mas já havia também comerciantes.
“Passando, pois, os mercadores midianitas, tiraram e alçaram a José da cova, e venderam José por vinte moedas de prata, aos ismaelitas, os quais levaram José ao Egito.” (Gênesis 37:28).


O devorador é um demônio ?

O devorador não é um demônio, como pensam alguns, mas sim uma espécie de gafanhoto. Por isso, o profeta Malaquias afirmou que o devorador não destruiria os frutos da terra. Como sabemos, dependendo da quantidade, o gafanhoto pode ser uma praga terrível até mesmo para uma enorme plantação.
“E por causa de vós repreenderei o devorador, e ele não destruirá os frutos da vossa terra; e a vossa vide no campo não será estéril, diz o Senhor dos Exércitos.” (Malaquias 3:11).

A nação de Israel tinha sua economia totalmente baseada na agricultura e pecuária.
Sempre que houvesse desobediência do povo para com Deus, eram castigados com pragas ou falta de chuva conforme II Crônicas 6:26 e Deuteronômio 28:15,38,39,40,42 

Quem não dar o dizimo está roubando a Deus?

Acreditar nessa falsa declaração é dar um passo para trás na fé.

Isso só seria possível se alguns requisitos fossem cumpridos, dentre os quais destacam-se:

 Pertencer à nação de Israel, pois o dízimo não foi ordenança aos demais povos, mas apenas a nação de Israel, quando diz: “Com maldição sois amaldiçoados, porque a mim me roubais, sim, toda esta nação.” (Malaquias 3:9).

Mas é preciso, como sempre na interpretação dos textos, considerar o contexto bíblico se quisermos obter uma interpretação honesta da Palavra de Deus.

Deus, através do profeta Malaquias, já havia denunciado o povo e os sacerdotes por sua ingratidão (1.1-5); os sacerdotes já haviam sido denunciados pela sua profanação, sacrilégios e um espírito mercenário (1.6-14), pelo que foram duramente advertidos por Malaquias (2.1-9), que expôs as consequências que as suas atitudes trouxeram para a sociedade (2.10-16). Ou seja, o povo tinha mudado diante de um Deus imutável (3.6). As suas ofertas continuavam desagradáveis a Deus, e isso Deus queria mudar. 



Centenas de anos depois de proclamada a Lei de Moisés, o princípio que rege a movimentação dos dízimos e ofertas é o mesmo: trabalhadores, órfãos, viúvas e estrangeiros. Todas essas classes são citadas no texto de Malaquias, escritos centenas de anos após o texto de Moisés. É este versículo que dá o contexto imediato de Malaquias 3.10. É a justiça social de que Jesus trata quatrocentos anos depois em Mateus 23.23.




Deuteronômio ainda nos reserva mais uma surpresa.

Lemos em Dt 14:28-29:


A cada três anos tomarás o dízimo da tua colheita no terceiro ano e o colocarás em tuas portas. Virá então o levita (pois ele não tem parte nem herança contigo), o estrangeiro, o órfão e a viúva que vivem nas tuas cidades, e eles comerão e se saciarão. Deste modo Iahweh teu Deus te abençoará em todo trabalho que a tua mão realizar.

Portanto, no terceiro ano, e novamente três anos depois, isto  é, no sexto ano do ciclo de Shabbat, o dízimo deve ser deixado  na comunidade local, em benefício do levita, que não tem  terra própria, e do estrangeiro, do órfão e da viúva, que são os  protótipos das “pessoas miseráveis”, que a sorte e as condições sociais empurraram para uma vida de carências e aflições.



Em primeiro lugar, observemos:
As palavras finais dessa lei, que dizem: “deste modo Iahweh teu  Deus te abençoará em todo o trabalho que a tua mão realizar”.
Portanto, diferentemente das demais* leis sobre o assunto que já estudamos, essa lei do “dízimo do pobre” é a única que vem  acompanhada de uma bênção! E em segundo lugar, ela vem acompanhada também de uma “declaração do dízimo”, que em alguns pontos guarda semelhanças com a declaração das primícias. Lemos em (Dt 26:12-15):


No terceiro ano, o ano dos dízimos, quando tiveres acabado de separar todo o dízimo da tua colheita e o tiveres dado ao levita, ao estrangeiro, ao orfão e à viúva para que comam e fiquem saciados em tuas cidades, tu dirás diante de Iahweh teu Deus:

“Tirei da minha casa o que estava consagrado e o dei ao levita, ao estrangeiro, ao órfão e à viúva, conforme todos os mandamentos que me ordenaste. Não transgredi nem me esqueci dos teus mandamentos. 

Dele nada comi durante o meu luto, e estando eu impuro dele nada tirei, e dele nada ofereci por um mor to.Obedeci à voz de Iahweh meu Deus e agi conforme tudo o que me ordenaste. Inclina-te da tua morada santa,
 do céu, e abençoa o teu povo Israel, como também o solo que nos deste, conforme juraste aos nossos pais, uma terra onde mana leite e mel.

Podemos observar que a declaração é um alerta para que o dízimo não seja profanado, conservando assim toda a sacralidade de que estava revestido desde o início, e que não deve ser perdida apesar da nova destinação que lhe é dada. Não bastassem essas palavras, lembremo-nos do que está escrito: “Maldito seja aquele que perverte o direito do estrangeiro, do órfão e da viúva! E todo o povo dirá: Amém!” (Dt 27:19).


Fica aqui uma observação,  Se a lei chama de maldito aquele que perverter essa mandamento da lei  eu pergunto:

Já que as denominações querem seguir o dizimo, deve-se seguir na Íntegra, Deus recebe esse dizimo?
 Enquanto que o dízimo é sempre uma taxa ou oferta para a manutenção de um culto, de um templo e de seus
funcionários, aqui ele é simplesmente uma contribuição filantrópica.

Observemos Malaquias 3:10.

Trazei todos os dízimos à casa do tesouro, para que haja mantimento na minha casa, e depois fazei prova de mim nisto, diz o SENHOR dos Exércitos, se eu não vos abrir as janelas do céu, e não derramar sobre vós uma bênção tal até que não haja lugar suficiente para a recolherdes.

"Trazei todos os dízimos à casa do tesouro, para que haja mantimento na minha casa", ele não disse para manutenção da casa.

Segundo o dicionario online está escrito:

Significado de Mantimento- 
Alimentos; tudo o que é utilizado para alimentação; os gêneros alimentícios.

A hermenêutica deseja sempre abrir os olhos das pessoas para aquilo que a Bíblia realmente diz.
A segunda regra da hermenêutica dita que devemos analisar a palavra dentro da frase, e a palavra aqui é "mantimento". Ora, o que é "mantimento"? Comida, necessidades, tudo aquilo que é mister para manter um local ou qualquer outra coisa.

Andando pelos templos tudo que ouvimos é que o templo precisa comprar um terreno e construir um prédio próprio, quando não, é necessário renovar a aparelhagem de som, ou modernizar o templo, vamos pintá-lo e para isso é necessário arrecadar tanto e mais tanto. Gostaria apenas de ouvir uma resposta direta e objetiva: Por que?

Por que a construção de templos faraônicos são cada vez mais comum? 
Por que é necessário gastar tanto dinheiro com aquilo que é corruptível? Quando Jesus declarou que não se ajuntasse tesouros na terra, a finalidade é para que tudo fosse entregue aos templos para que se construísse mais uma sala? Estes templos gigantes não estão tão cheios! Por que querem aumentá-los?

Seria este o tipo de mantimento que o santo Espírito estaria revelando no texto do livro do profeta Malaquias que é necessário?

Por que os atuais líderes religiosos estão cuidando tanto do templo, quando deveriam estar cuidando das necessidades básicas das pessoas? As pessoas (igrejas) estão morrendo, passando fome e sofrendo todo tipo de necessidade e o que esta sendo feito por elas? Distribuição de algumas cestas básicas, que são montadas com alimentos doados pelos próprios necessitados (o dinheiro do dízimo nunca é usado para este fim), uma espécie de consolo para consciência, um álibi diante da insensibilidade e descaso dos religiosos.



Dos quatro Evangelhos, os de Marcos e João ignoram completamente o assunto e não fazem nenhuma menção ao dízimo. Mateus e Lucas fazem três menções, representando apenas dois contextos, pois duas dessas

passagens são paralelas entre si. Vejamos cada um desses textos:


1) Mt 23:23-24 — Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas, que pagais o dízimo da hortelã, do endro e do cominho, mas omitis as coisas mais importantes da lei: a justiça, a misericórdia e a fidelidade.
Importava praticar estas coisas, mas sem omitir aquelas. Condutores cegos, que coais o mosquito e tragais o camelo!



2) Lc 11:42 — Mas ai de vós, fariseus, que pagais o dízimo da hortelã, da arruda e de todas as hortaliças, mas deixais de lado a justiça e o amor de Deus! Importava praticar estas coisas sem deixar de lado aquelas.


3) Lc 18:9-14 -— Contou ainda esta parábola para alguns que, convencidos de serem justos, desprezavam os outros:

“Dois homens subiram ao Templo para orar; um era fariseu e o outro publicano. O fariseu, de pé, orava interiormente deste modo: ‘O Deus, eu te dou graças porque não sou como o resto dos homens, ladrões, injustos, adúlteros, e nem como este publicano; jejuo duas vezes por semana, pago o dízimo de todos os meus rendimentos.’

O publicano, mantendo-se a distância, não ousava sequer levantar os olhos para o céu, mas batia no peito, dizendo:

‘Meu Deus, tem piedade de mim, pecador!’ Eu vos digo que este último desceu para casa justificado, mais do que o outro. Pois todo o que se exalta será humilhado, e quem se humilha será exaltado.
 analisando o texto de Mateus/Lucas, é possível ver neste texto nada além de uma menção de Jesus, de passagem, sobre o dízimo.



O Mestre não está falando a respeito do assunto, e sua
intenção não é ensinar nada sobre ele. Ao contrário, suas palavras são uma crítica profunda ao modo de vida hipócrita dos fariseus, que adotavam uma religiosidade formal, mais dava às práticas exteriores do que a uma real e verdadeira contrição na presença do Eterno.


Não estava em jogo a correção de vida religiosa, mas tão somente uma prática destinada a dar uma satisfação social, e a construir uma fachada de vida dedicada a Deus. Tanto mais isto é verdadeiro, quanto nos lembramos de que o dízimo sempre se restringiu aos produtos mencionados em Dt 8:8, de modo que dizimar com relação a coisas como hortelã, arruda, hortaliças, endro ou cominho, constitui-se em um exagero completo.

Dessa forma, a raiz da hipocrisia atacada por Jesus nestes textos  reside exatamente nessa prática legalista do dízimo. A frase de  Jesus, “importava praticar estas coisas sem omitir aquelas”, tem o óbvio sentido de mostrar que a Lei deve ser cumprida de modo integral, mas de qualquer forma é impossível imaginar que alguém possa pensar que a cumpriu, sem contudo praticar aquilo que lhe é essencial: a justiça, a misericórdia e a fidelidade

A própria expressão usada por Jesus (segundo o texto de Mateus), “coais o mosquito e tragais o camelo”, dá bem a ideia da importância relativa atribuída por Jesus à observância das coisas fundamentais da Lei (“o camelo”), e à observância hipócrita do dízimo (“o mosquito”).Ora, por que interpretar essas palavras de Jesus como uma aprovação do dízimo, quando na verdade elas são uma condenação dessa oferta, pelo menos na forma deturpada como os fariseus o praticavam?

É evidente que para um judeu o cumprimento da Lei deveria ser integral, o que inclui o dízimo na sua forma correta. Mas isso não nos autoriza a dizer o mesmo com relação ao cristão, nem é isso que Jesus está dizendo aqui.
O segundo texto de Lucas é uma parábola contada por Jesus, cuja intenção está declarada no próprio texto: “para alguns
que, convencidos de serem justos, desprezavam os outros”
De novo, Jesus está às voltas com a hipocrisia, com o orgulho, com 
a auto-justificação, etc. E de novo, o seu alvo são os fariseus! 
de novo, podemos constatar entre os “argumentos” do fariseu para demonstrar a sua superioridade, a presença de duas práticas totalmente formais e exteriores: o dízimo e o jejum! Felizmente, não é possível encontrar em nenhum livro esse texto sendo usado como exemplo de uma suposta defesa do dízimo por parte de Jesus!



Novamente, em todo o livro dos Atos, não existe uma única menção ao dízimo. Creio que podemos fazer o seguinte raciocínio, que me parece totalmente lógico, equilibrado

Se a doutrina do dízimo fosse uma prática corrente na Igreja primitiva (a Igreja do livro dos Atos e das cartas), seria normal esperar que nessa comunidade houvesse os mesmos problemas que nós temos hoje, isto é: a existência de pessoas que não contribuem com o dízimo, de pessoas que contribuem com menos do que o dízimo, ou de pessoas que não aceitam o dízimo. Afinal, a Igreja  primitiva é rica de exemplos em todos os sentidos e em todas as  áreas da vida religiosa, de forma que muito raramente deixamos de encontrar nela paralelos que se podem aplicar às situações que vivemos hoje.

No entanto, as Escrituras mostram um silêncio absoluto e impenetrável acerca desta questão: não há uma única menção ao dízimo em todas as cartas, não há qualquer exortação à sua prática, nenhuma repreensão para crentes que eventualmente não eram dizimistas, nada, nada! A Igreja primitiva, que apresentava em seu seio todos os tipos de pecados que também nos afligem (até
incesto ocorreu!), ou era perfeita na questão do dízimo, ou então o dízimo não estava dentro das suas práticas. Realmente, não há outra alternativa.

Ora, quando o ambiente da Igreja é permeado por essas atitudes, é imediato concluir que o dízimo simplesmente não existe, pois o contexto é de uma comunidade em que todos contribuem com tudo o que têm, e não apenas com um percentual de seus bens e rendas. Todavia, é absolutamente necessário distinguir um importante detalhe: ninguém está contribuindo para sustentar qualquer estrutura clerical, mas todos contribuem para o sustento de suas próprias vidas!

Vejamos em Atos:



Todos os fiéis, unidos, tinham tudo em comum; vendiam as suas propriedades e os seus bens e dividiam o preço entre todos, segundo as necessidades de cada um (2:44-45).
A multidão dos fiéis era um só coração e uma só alma. Ninguém considerava seu o que possuía, mas tudo era comum entre eles (4:32).



Não havia entre eles indigente algum, porquanto os que possuíam terras ou casas, vendiam-nas, traziam o dinheiro e o colocavam aos pés dos apóstolos; e distribuia-se a cada um segundo a sua necessidade (4:34-35).

Uma primeira constatação é que não há, no Novo Testamento, nenhum parâmetro mínimo estipulado para a contribuição. O apóstolo Paulo organizou uma grande coleta para os necessitados da Judéia. As duas epístolas aos Coríntios trazem referência a esta coleta:

“Quanto à coleta para os santos, fazei vós também como ordenei às igrejas da Galácia. No primeiro dia da semana, cada um de vós ponha de parte, em casa, conforme a sua prosperidade, e vá juntando, para que se não façam coletas quando eu for.” (1 Co 16.1-2).

Nos capítulos 8 e 9 de 2 Coríntios, Paulo desenvolve seu ensino acerca das contribuições. Estes textos se referem à alegria da contribuição, à generosidade, à liberalidade, a presteza em ofertar:

“E isto afirmo, aquele que semeia pouco pouco também ceifará; e o que semeia com fartura com abundância também ceifará. (9.6) ... porque, no meio de muita prova de tribulação, manifestaram abundância de alegria, e a profunda pobreza deles superabundou em grande riqueza da sua generosidade. (8.2) Pedindo-nos, com muitos rogos, a graça de participarem da assistência aos santos. (8.4) ... assim, como revelastes prontidão no querer, assim a leveis a termo, segundo as vossas posses. (8.11) porque bem reconheço a vossa presteza, da qual me glorio...” ( 9.2). 

Segundo o dicionario online, a palavra (presteza) significa:

Característica de quem é solidário; qualidade da pessoa que tenta ajudar os outros de maneira caridosa e rápida: recebeu nossa solicitação com presteza.

Não vemos nenhuma referência a uma contribuição mínima que é obrigatória – o dízimo – e a partir daí, ofertas voluntárias. Ao contrário, o ensino de Paulo, é que se a contribuição não for voluntária, não deve ser dada: 

“Não vos falo na forma de mandamento, mas para provar, pela diligência de outros, a sinceridade do vosso amor; (8.8) Porque, se há boa vontade, será aceita conforme o que o homem tem e não segundo o que ele não tem. (8.12) Cada um contribua segundo tiver proposto no coração, não com tristeza ou por necessidade; porque Deus ama a quem dá com alegria. (9.7) Ainda que eu distribua todos os meus bens entre os pobres (...) se não tiver amor, nada disso me aproveitará.” (1 Co 13.3).

No entanto, continuamos a encontrar alguns textos que
confirmam a preocupação apostólica contida nas palavras de Paulo acima referidas, isto é, o dever da misericórdia e do amor ao próximo. Assim, lemos:

A religião pura e sem mácula diante de Deus, nosso Pai, consiste nisto: em assistir os órfãos e as viúvas em suas tribulações e em guardar-se livre da corrupção do mundo (Tg 1:27).

Não vos esqueçais da beneficência e da comunhão, -porque são antes os sacrifícios que agradam a Deus  (Hb 13:16).

E não por acaso, em uma visão profética daquilo que o futuro traria para a Igreja, Pedro adverte:

Por avareza, procurarão, com discursos fingidos, fazer de vós objeto de negócios; mas seu julgamento há minto está em ação e a sua destruição não tarda(II Pe 2:3).

CONCLUSÃO:


Visto que, no encontro com o Senhor Jesus, no final da velha aliança e próximo a nova aliança no Sangue de Cristo, a elite de escribas e fariseus de Mateus 23. 23, foram condenados a perdição eterna pelo Senhor Jesus, não por cumprir a vigência da Lei Levítica, mas por negligenciar os preceitos mais importantes da lei:

a justiça, a misericórdia e a fé. Ou seja, dizimavam a mais para esconder o que faziam de menos; isto é, surrupiavam as viúvas, os órfãos e os estrangeiros.

Quanto a Malaquias 3. 10, foi uma verdade no período veterotestamentário que dava validade ao dízimo levítico, entretanto se constitui em uma grande mentira no período neotestamentário, com grandes prejuízos para as igrejas evangélicas, tais como:


1- Enriquecimento de algumas congregações, com o perigo espiritual aos respectivos líderes, os quais são aprisionados pelo deus Mamom, pela avareza dos seus corações;

2- Falta de pastoreio espiritual no rebanho de Cristo, motivado pelo controle financeiro e também com ameaças de um certo devorador (diabo), e com a garantia de enviar ao inferno os membros que não contribuírem com no mínimo 10% de sua renda; visto que, são considerados ladrões todo aquele que não se submetem a passagem de Malaquias 3. 10.

3- Manutenção de um farisaísmo pentecostal em detrimento de uma santificação interior, alimentado pela suposta compra de salvação através de pagamentos de dízimos como garantia de não perderem a salvação eterna. Entre outros.

A Igreja deve repensar a sua estrutura e reduzi-la sempre que ela estiver inchada e abusivamente grande. Ela precisa despojar-se e ser capaz de servir da forma mais efetiva e simples possível, sem pompas ou aparatos. 

Necessitaremos de uma Igreja tão “descartável” quanto possível, uma Igreja efetivamente “pobre”, despida dos enfeites deste mundo, mas bem adornada com virtudes espirituais. 

Os líderes das igrejas precisam pôr de lado uma certa ótica imperial, que os leva a decidir o que querem gastar, sem consultar para valer a vontade das suas comunidades. Os líderes precisam ser humildes e acatar com boa vontade aquilo que é a expressão genuína da vontade coletiva.


Chamar de ladrão quem não dar o dizimo em plena na nova aliança, além de condenável é uma falta de respeito as escrituras, ao Novo Testamento, pois não dar o dizimo é roubo; Acredito que ladrão também, é aquele que não cumpre  a lei na integra ou seja em toda sua totalidade.
“Maldito seja aquele que perverte o direito do estrangeiro, do órfão e da viúva! E todo o povo dirá: Amém!” (Dt 27:19).

Maldito todo aquele que não permanece em todas as coisas que estão escritas no livro da lei, para fazê-las.” 
(Gálatas, 3:10).

É muito importante salientar que o dízimo dos evangélicos é inferior aos dízimos da lei de Moisés, pois os dízimos da lei mosaica se destinava ao levita, ao órfão, á viúva e ao estrangeiro, e o dízimo dos evangélicos se destina às organizações. Os levitas só recebiam, não davam dízimos, pois não tinham herança entre os filhos de Israel, não tinham propriedades rurais para produzir alimentos.

Quando o jovem rico foi a Jesus procurando justificar-se, recebeu o veredicto final: Vai, vende tudo o que tens e dá aos pobres. Qualquer um dos líderes da presente safra ter-lhe-ia dito: “Vai vende tudo o que tens, volta e dá para a obra (minha organização, meu nome)”. Ou pior: “Não venda nada do que você tem, continue gerando riquezas, e passe a colaborar com a obra através de ofertas e dízimos, e o que mais Deus tocar no seu coração... Você receberá a benção do dízimo, e será cada vez mais próspero”.

Em tudo isso não vemos nenhuma cooperação com a Verdade, nem percebemos igualdade no meio do povo de Deus. O órfão, a viúva e o pobre não são nem ao menos, visitados. O dinheiro arrecadado visa à construção de grandes obras faraônicas, templos suntuosos, cadeiras acolchoadas para se assentarem, e para a sustentação de líderes milionários que nem ao menos conhecem as ovelhas que estão sob o seu cuidado (se é que estão). Tais líderes, na verdade, não tratam com ovelhas, mas com números; não são pastores, mas empresários; não são homens de Deus, porém homens de negócio.


Fontes de pesquisa:

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A Bíblia Tradução Ecumênica, 1ª edição, São Paulo: Loyola; São Paulo: Paulinas, 1996;


Bíblia de Jerusalém, nova edição, revista e ampliada, São Paulo: Paulus, 2002;


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Escrituras Sagradas, Tradução do Novo Mundo das. Cesário Lange, SP: STVBT, 1986;

CHAMPLIN, R. N. O Novo Testamento interpretado versículo por versículo, vol. 2, São Paulo:Hagnos, 2005;

DURANT, W. História da civilização 1ª parte – Nossa herança oriental. São Paulo: Cia Editora Nacional, 1957;

JOSEFO, F. História dos Hebreus, Rio de Janeiro, CPAD, 2003.


PAGANELLI, Magno. Dízimo: o que é e para que serve o dízimo, sua história e função social. São Paulo: Arte Editorial, 2010;



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Trad. de João Ferreira de Almeida - Edição

Contemporânea. Editora Vida, São Paulo -

1993;

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Almeida (Revista e Atualizada). Editora 
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Encyclopaedia Judaica. Keter Publishing House Ltd.,

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COLEMAN, WILLIAM L. Manual dos Tempos e Costumes Bíblicos. Editora Betânia, 1ª Edição, 1991;

Bíblia de Estudo DAKE editora Atos;

DESMISTIFICANDO O DÍZIMO- ABU Editora Paulo José F de Oliveira;

Dizimo da Igreja ou da Tribo de Levi- Por Valdomiro Filho;

Dizimo Como Uma Prática Comunitária e Solidária- Uma Leitura Histórica e Crítica de Deuteronômio 14:22-29
Dissertação apresentada ao curso de Pós-Graduação em Ciencia da Religião, Universidade Metodista de São Paulo( São Bernado do Campo), 2007; 

http://teophilo.info/guests/englucianadizimo.htm#ixzz2TpfvNkrV;

http://leiaabiblia.blog.br/dizimo-e-biblico-nos-dias-de-hoje/




http://oraculum.blog.br/blogoraculum/index.php/opinioes/dizimo/



http:www.cristoeaverdade.net

http://www.estudosdabiblia.net